1 de novembro de 2018
Um, dois, três… Um, dois, três… Inspirar e expirar… Inspirar e expirar… Nada resulta, nem os truques que o psicoterapeuta me ensinou. Sinto-me devastado, ultimamente a dor é cada vez mais premente. Chega de súbito, sem qualquer pré-aviso, deixando-me frágil. Doente, sinto-me doente. Que mal fiz eu para merecer isto?!
Confesso que já tentei um pouco de tudo. Psicologia, psicoterapia, psiquiatria, enfim todas as especialidades que rimam com ‘ia’. No entanto, esta dor é cada vez maior. Experimentei correr, o martírio do ginásio e até enfardei os mil e um comprimidos que me receitaram. Contudo, nada resultou. Absolutamente nada.
Sinto-me perdido, num mar de dor imensa, que parece não ter fim. Imagino que os antigos navegadores portugueses sentissem pesar semelhante, na calha de naufragar: – Calma, dizem-me para ter calma. Estes idiotas pensam que basta ter calma?! Já me chamaram, inclusive, de stressado, como se a causa das minhas maleitas fosse potenciada pela hipérbole do meu interior; falam como se eu não sentisse tal dor.
Eles não sabem, nem sonham, que esta dor comanda o meu ser… Desde as entranhas ao exterior, o indivíduo estranho que hoje sou, em parte, foi moldado pelo pânico, pela dor… Enfim, pela escuridão. Parece que as nuvens negras de inverno são como um campo magnético, gritam pelo meu nome, arrastando-me… Mas, sabem o que é pior? Nem sequer tento evitar. Como estou cansado de lutar, deixo-me ir. As nuvens negras envolvem-me e transformam-me.
Passo a passo, o tom da pele muda de cor; os traços do rosto perdem vigor e o meu corpo [ai o meu corpo] deixa de sentir calor. Se me deres a tua mão, vai ser como tocar num cadáver. O gelo abraçou-me, é como se fizesse parte de mim. Deveria ignorá-lo, ou deixá-lo partir, certo? Mas, não quero, julgo que não é essa a minha vontade. Estes icebergues que agora ladeiam o meu corpo fisíco, pelo menos disfarçam o cataclismo que envenena o meu espírito.
Diário de um alter-ego insano apresenta devaneios de uma personagem masculina ou feminina, não se sabe ao certo, afinal são os devaneios de alguém louco. Não se tratam de relatos pessoais, mas apenas de mais uma tentativa de exploração do lado criativo da autora do blogue. Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência, ou talvez não.