II

Multiplicam-se as receitas dos remédios e bebidas para curar maleitas. Em porções desproporcionadas da realidade servem-me as soluções líquidas para as minhas dores. Perdoem-me os crentes, mas desconfio da veracidade de esoterismos. Desculpem-me os filósofos, mas as vossas teorias não são as minhas. Que não me batam os psicólogos e psiquiatras, mas os vossos comprimidos deviam ser proibidos. Lamento informar, mas os vossos antidepressivos apenas remedeiam depressões. Quais estupefacientes inventam alegria onde só há tristeza. E chamam a isso curar? Podem receitar às dezenas e centenas, refutarei cada caixa dessa podridão. Não dispenso nem mais um centavo nessa máscara que me tentam imputar. Prefiro a dureza palpável da dor, em detrimento dos sorrisos abstratos das vossas drogas. Quero chorar sempre que precisar. Quero gritar sempre que precisar. Chega de fingir que não é a dor aquilo que deveras sinto. Chega de fingir que não é vazio aquilo que agora trago dentro de mim. Não devemos ter medo de sofrer. Porque o sofrimento é real. Se existe e está em mim, em nós, não o devemos negar. Porque não há cura que aguente falácias de um contentamento desvirtuado.

Durante algum tempo enganei-me. Mas depois de dormir acordada percebi que não era esse o rumo a tomar. Percebi que não vale a pena pensar muito sobre roteiros. Podemos conceber o mais perfeito itinerário para a nossa vida, contudo temos que estar preparados para os desvios. Mesmo com mapas e os mais afamados GPS podemos desembocar em abismos. Num ápice tudo pode mudar ao ponto de nada voltar a ser o mesmo. Com inúmeras reflexões sobre o absurdo que é a vida, perco-me entre pensamentos soltos e insónias sem fim. Desde que te fostes que parte de mim partiu. Fui forçada a desprender-me da amarra que me ligava a um porto seguro. Tive que embarcar e navegar num mar de tempestade, numa viagem tão solitária quanto a solidão o sabe ser. Nas margens soltam-se vozes amigas que entoam frases de avisos. Guardo o calor das suas palavras comigo, mas tenho que partir. Não sei muito bem para onde, mas tenho que partir. Tenho que me redescobrir sem ti. Livre de aditivos receitados, contudo doente pela sede de escrever. Tenho mesmo que me redescobrir. Custa admitir, mas tenho que aprender a viver A Vida Depois de Ti!

(Continuação do texto “I”)

Entrarei em contacto, assim que possível.

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